domingo, 1 de agosto de 2010

Amor, isso sim.

Pássaro. Pássaro, pássaro, pássaro!
Quando eu era pequeno eu bem que queria ser um. Imaginava como seria divertido planar por entre árvores, ou pela superfície do mar, ver tudo bem do alto, pra todo mundo parecer formiguinha pra mim.
Pensava que se não pudesse ser pássaro, ia querer ser avião. Afinal, é quase a mesma coisa, só ia sentir um pouco de falta do bater de asas que adorava dentro da cachola, mas com essas coisas agente se acostuma, então nem tanta diferença fazia.
Depois quis ser tubarão. Nadar pelas mais profundas entranhas do oceano, avistar uma presa, ir de mansinho, e então BAM! Abocanhá-la de uma só vez, e engolir sem nem mastigar.
Dizia que se não pudesse ser tubarão, ia querer ser marinheiro. Tá certo que esse aí já não tem tanto a ver, mais mesmo assim, queria. Dizia que ia comprar um barco só pra mim e pra a titia, e minha irmãzinha também, se ela parasse de me abusar.
Depois eu quis ser bactéria. Pensava que devia ser um máximo poder se dividir em quinzenas de gazilhares por aí. Achava que podia fazer um monte de amigo assim, e quem sabe ter esposa e filhos desse jeito? Que nem no livro da Familia Bactéria que a mamãe lia pra mim, era uma das minhas histórias preferidas.
Dizia que se não pudesse ser bactéria, ia querer ser cientista. Mexer com aqueles tubinhos, botar melecas verdes umas dentro das outras, ou até mesmo explodir tudo! Aposto que conseguiria criar um montão de bactérias legais desse jeito. Quase ganhei um concurso da feira de ciências do melhor desenho. Fiquei em segundo lugar, mas todo mundo dizia que eu merecia o primeiro. Tinha desenhado eu quando fosse adulto, tinha ficado realmente muito legal, e mesmo com o segundo lugar, todo mundo ficou super orgulhoso de mim.
Mas daí eu cresci. Cresci, e quis ser amor. Imagine só, poder fazer as pessoas voarem de paixão pelo mundo afora, nadarem por um mar feito de litros de porções de poções do amor. Ser cura e ser doença ao mesmo tempo, e multiplicar-me aos montes para dar todo o amor que o mundo inteiro precisasse.
E disse que se não pudesse ser amor, iria querer ser apaixonado. Ia querer ser uma parte do inteiro que é a beleza disso tudo. Dizia que não queria mais nada, apenas ser o que dizia, e pela primeira vez, fui. Pela primeira vez, eu fui de fato tudo o que quis ser! Pela primeira vez, vi os coturnos esbeltos, os perfumes diversos, e tão cheirosos, ví infusões de cores e flores! Vi você!
Pela primeira vez na vida, fui eu mesmo de verdade, e agora você me diz que eu sou um pássaro? Pense bem, não acha que eu sou o que lhe digo ser não? E mais do que isso, não acha que você também não é, o que eu lhe digo ser não? E mais ainda, não acha que somos o que lhe digo sermos não?Pense bem, querida, e me diga, não acha que somos amor?

Um comentário:

  1. Muito bom, senhor Rumpelstiltskin. Gosto desse tipo de texto. Acho que você foi ousado e está, em parte, certo. Mas a sua querida já leu esta amável autobiografia reduzida a respeito de suas ambições e desejos?

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