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Eu deveria estar fazendo aniversário hoje, mas acontece que não foi hoje que eu nasci. Não, não, você bem sabe, Alice, que foi naquele dia ensolarado que eu nasci. Aquele dia que hoje nos parece feito das nostálgias dos bons tempos, e de marrom. E você nem sabe, Alice, que naquele dia, eu nasci mesmo foi por acaso.
Sim, por acaso! Afinal, depois de uma manhã de sanidade e de abstinência do chá que ainda não conhecia, o que eu queria mesmo era achar uma árvore e uma sombra, e tirar um bom cochilo. Quem sabe acordar mais tarde e caminhar um pouco, olhar o céu, o chão, sei lá. Essas coisas que esse povo louco faz por ai, sabe? Mas bom, terminou não foi isso que aconteceu, não é?Eu deveria estar fazendo aniversário hoje, mas acontece que não foi hoje que eu nasci. Não, não, você bem sabe, Alice, que foi naquele dia ensolarado que eu nasci. Aquele dia que hoje nos parece feito das nostálgias dos bons tempos, e de marrom. E você nem sabe, Alice, que naquele dia, eu nasci mesmo foi por acaso.
Não, não. Você apareceu, vindo do seu próprio país e me levando para dentro dele. Bom, na verdade naquele país estava você e todos os outros, mas certamente estava mais você do que qualquer um. Mas bom, de um jeito ou de outro, estavam todos lá, e todos vieram de se unir contra mim, e unidos, conseguiram a proeza de derrubar o meu grande plano de mais uma tarde sem-graça da minha destopia de país pessoal.
Esse sim deveria ser comemorado o dia do meu aniversário. O dia em que eu saí do meu falho projeto de vida e fui, enfim viver. O dia em que eu deixei aquela terra de gente louca, e encontrei o meu lindo País das Maravilhas. E eu deveria estar comemorando o meu aniversário é lá! Rindo-me e bebendo do mais frabuloso chá, e não aqui, nessa velha terra que eu há tanto havia deixado. Não num dia perdido como hoje, não numa festa sem-graça, infestada de garças. Uma festa feita de hipocrisias, de gente fútil, feita de "felizes aniversários", sendo que nem aniversário meu é! Não num dia onde todos gritam comigo, brigam comigo, e nem ao menos me deixam fazer um maldito chapéu em paz! Um dia no qual tenho você e todos os outros em seus próprios países (das maravilhas ou não), nenhum dia ensolarado, e ninguém para impedir os meus cochilos, me oferecer chá, e nem destruir um outro plano bobo meu qualquer.
E é justamente por não haver ninguém aqui, Alice, que te fantasio nesse pedaço de papel. Fantasio uma outra carta, das milhões que nunca enviei, colando selos deus sabe pra que. É justamente por não haver ninguém aqui, Alice, que hoje nada mais passa que o mais sem graça dos desaniversários, que um louco como eu jamais teve a desonra de ter, porque louco nenhum que esteja em plena sanidade mental jamais, em hipótese alguma, se deixa ser arrastado, mesmo que à força, para fora do seu País das Maravilhas.
E é justamente por não haver ninguém aqui hoje, Alice, que só me resta cantar, comigo mesmo e com a cartola que levo na cabeça, fingindo a animação que me decidiu fugir:
"Um bom desaniversário pra mim"
"Pra quem?"
"Pra mim"
"Pra ti?"
"Um bom desaniversário pra ti"
"Pra mim?"
"Sim sim (É sim)"
"Vamos comprimentarmos com uma xícara de chá"
"Com um desaniversário pra mim"
Ah, Sim! Quase me esqueço, coloquei em anexo uma foto dos bons tempos, daquele dia ensolarado, sabe? Um presentinho de desaniversário, nada demais, espero que goste. Feliz desaniversário.
Com saudades,
O Louco da sua História.



