segunda-feira, 14 de junho de 2010

A rua.

Era uma rua longa, velha e empoeirada, que nem mais era estrada. Há tempos ninguém se dava ao trabalho de passar por ali, afinal, o retorno já estava a duas quadras de distância. Nem mesmo ele (ou ela, não sei bem dizer) estaria ali se fosse inteligente ou atrevido o suficiente para ir por qualquer outra rua. Mas bom, eis que ali estava ele, parado já há um bom tempo, sem nem mesmo pensar em continuar. Apenas sentado, olhando pro seu próprio mundo, ou talvez o mundo depois daquela estrada, quem sabe?
Mas eis que ele continuou ali, por um bom tempo, diga-se de passagem. Anos, talvez décadas, não se sabe, afinal, não havia relógio nenhum naquele lugar. A idade o atingira como atingiria também a qualquer outro, como em qualquer outro lugar. Havia agora, ao invés de uma face lisa e com as poucas espinhas, uma enrugada com barba já branca. Seus olhos estavam dilatados, suas roupas quase tão empoeiradas quanto aquele lugar. Mas ele levantou, como se não tivesse passado nem ao menos um segundo, levantou e andou. Andou pela rua, agora infestada de mato. Andou sem se preocupar com nada assustador que pudesse pular de qualquer lugar no escuro. Simplesmente andou. Talvez esperando encontrar, enfim, o mundo que tanto sonhara. Ou talvez simplesmente querendo ir finalmente para algum lugar. Quem sabe? Afinal, ali também não havia mapa nenhum. Mas enquanto andava, lhe veio frustração. Frustração por perceber o quanto o ar se parecia como o de antes, o quanto o solo se parecia como o de antes e, principalmente, o quanto tudo era simplesmente como antes. E então ele deitou, ali mesmo, naquela rua velha e empoeirada, e chorou.
(...)

Nenhum comentário:

Postar um comentário