"Alice! Você aqui? Entre, entre, vamos. Como tem passado? Bom, eu tenho passado me lembrando, sabe? Eu tenho passado me lembrando de todos aqueles anos, me lembrando daquela noite clara, daquele texto, daquele marrom."
"Se eu ainda penso naquilo? Bom, eu não vou mentir pra você, Alice. Confesso-lhe, penso naqueles anos todos os dias desde que partiu. Penso e fantasio mil coisas com ele. Fantasio o sol, fantasio a madeira, e até me fantasio! Acredita? Fantasio, fantasio só porque o presente não me parece tão tentador quanto o passado já foi, e você bem sabe, Alice, não é."
"O presente? Ah, bom, os últimos dias tem feito - pelo menos em tese - o presente parecer um pouco mais agradável do que estava antes. Tanto que eu nem estava mais vivendo em todos aqueles passados já tão passados da hora. Mas agora eis que o passado, tão marrom, se juntou em complô com o verde, e deu que eles vieram aqui mesmo, só pra me derrubar, acredita nisso?"
"Sim, o verde. Quem diria, não é? Nunca havia dado muito valor a ele, talvez por isso que ele tenha vindo assim com tudo, ou não, quem sabe? Talvez tenha sido por causa daquelas músicas, daquele filme, ou talvez por causa das árvores, que por algum motivo não saem da minha cabeça. Sim, sim, árvores! Deixe que mais tarde eu lhe explico".
"Mas bom, é simplesmente impossível tentar entender as cores, não acha? Assim como é impossível tentar entender as flores, as dores, e tantas outras coisas fascinantes que se dispõem diante de nós. Ainda mais as cores! Ora, que tolice! Tentar entender as cores é quase a mesma coisa que tentar entender o que sinto, o que minto, o que finco. Quase a mesma coisa que tentar entender a nós mesmos e os nossos beijos, quase a mesma coisa que tentar entender os abraços, o barco e o naufrágio. Que tolice! Não acha?"
"Mas eu não sei bem. Marrom junto com verde é pra lá de estranho, né não? Talvez seja por isso que essas árvores não saiam da minha cabeça, afinal, aonde mais eu iria encontrar verde junto com marrom? Coisa de doido!E mais fácil ver, o verde no seu canto e o marrom no meu, acha não?"
"O marrom! Já tem alguns anos que, você bem sabe, aprendi a me deliciar com ele. Gostava dele puro. O seu casaco dissolvido no assoalho daquela história e bem fervido na madeira da sua casa. Mas com verde no meio está me parecendo com uma cara tão boa! Está tão parecido com aquele filme, com as músicas daquele filme, com aquela noite clara! Que mal faria um pouco de folhas de árvore no seu casaco? Quero dizer, eu acho muito bom, mas é você quem sabe, afinal, o casaco é seu mesmo..."
"Santo deus! Perdõe meus maus modos. Te enchi com tanto papo furado que até me esqueci de te oferecer um drinque! Me diga, Alice, vai querer folhas de árvore no seu casaco?"
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